Agência dos EUA quer acabar com testes em animais

O FDA se compromete a explorar métodos alternativos para substituir os animais de laboratório no desenvolvimento de novos medicamentos e produtos.

No mês de junho, o FDA apresentou propostas para o Programa de Novos Métodos Alternativos  com o foco na substituição, redução e refinamento do uso de animais em laboratório por meio da adoção de métodos alternativos de ponta. Essas mudanças seriam realizadas em todos os centros do FDA, incluindo os que supervisionam a aprovação de novos medicamentos, dispositivos médicos, medicamentos veterinários, cosméticos e muito mais.

Os cientistas do FDA estão realizando suas próprias pesquisas a serviço desse objetivo e estão colaborando com demais colegas da indústria, de academia e de outros setores do governo dos EUA. Segundo a cientista-chefe do FDA, Namandjé Bumpus, quaisquer métodos eventualmente adotados no lugar de pesquisas envolvendo animais, serão rigorosamente examinados e validados, baseados na melhor ciência. Bumpus e seus colegas não receberam nenhuma oposição ou ouviram qualquer preocupação da comunidade científica sobre a redução do uso de animais.

Funcionários do FDA dizem que o Programa de Novos Métodos Alternativos é prioridade e seria financiado com 5 milhões de dólares, solicitados como parte do orçamento de 2023, para desenvolver uma estratégia abrangente sobre métodos alternativos de teste.

Avanços biomédicos impulsionam alternativas

Os testes em animais são um requisito importante para estabelecer a segurança e a eficácia dos produtos que estão sendo lançados no mercado atualmente, mas existem diferenças importantes entre humanos e cobaias animais, pois à medida que a compreensão biomédica avançou, os cientistas começaram a enfrentar as limitações de usar outras espécies como representantes de humanos. Bumpus explica que um camundongo ou rato nem sempre processa medicamentos e produtos químicos da mesma forma que os humanos. O desenvolvimento de mais sistemas in vitro, baseados em células, tecidos e modelos humanos, pode, em alguns casos, ser mais preditivo.

O interesse do FDA em adotar novas abordagens também reflete o pensamento atual da comunidade biomédica em geral. Em 2014, o Reino Unido, por exemplo, anunciou planos para reduzir o uso de testes em animais em pesquisas científicas, visando substituir esses testes por “alternativas cientificamente válidas” sempre que possível. Em 2021, o Parlamento Europeu votou a favor dos planos para eliminar gradualmente os testes em animais em pesquisa.

David Strauss, diretor da Divisão de Ciência Regulatória Aplicada do FDA, reafirma que a chave para provocar essas mudanças, é realizá-la entre as várias agências reguladoras, visto que os programas de desenvolvimento de medicamentos são globais e as empresas querem comercializar seus produtos ao redor do mundo.

Os métodos desenvolvidos em laboratório, tornam o fim dos testes em animais uma possibilidade realista para o futuro. As tecnologias incluem, por exemplo, células-tronco pluripotentes induzidas (programadas para terem o potencial de se transformar em qualquer tipo de célula encontrada no corpo) e organs-on-a-chip, que são pequenos dispositivos contendo tecidos humanos vivos que imitam um órgão, sistema orgânico ou até mesmo um corpo inteiro¹. Ademais, o desenvolvimento de IA e machine learning estão permitindo que os cientistas aproveitem os dados existentes para construir modelos computacionais, que podem fazer previsões sobre a segurança e eficácia de um novo medicamento. 

Mais financiamento necessário

Locke afirma que além de serem mais relevantes para os humanos,uma vez que esses tipos de tecnologias são mais qualificados e validados para usos específicos, este novos testes provavelmente serão mais rápidos e baratos do que o uso de animais, permitindo que os produtos sejam lançados no mercado com mais rapidez e eficiência. Mas ainda é só o começo e o FDA tem apenas algumas histórias bem sucedidas de substituição de testes em animais para as quais podemos apontar.

O financiamento para desenvolver e validar métodos alternativos também é um problema, acrescenta Locke, tanto internamente no FDA quanto externamente para cientistas cujos laboratórios dependem de fundos federais para criar novas abordagens. O FDA não é uma agência de financiamento, e os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, que é o maior financiador público de pesquisa biomédica do mundo, atualmente não tem nenhum programa dedicado ao desenvolvimento de alternativas aos testes em animais.

Por hora, apesar das alternativas promissoras aos testes em animais, os reguladores federais aprovaram apenas alguns métodos e tais métodos não substituirão completamente os testes em animais tão cedo.